
Estava eu a caminho do trabalho e a escrever uma mensagem ao meu pai quando me cruzo com ele na rua. Nem de propósito. "Oh, já que aqui estás, vamos tirar uma selfie que a foto que eu ia colocar não estava nada de especial."
Nunca fui muito menina do papá, mas herdei imenso deste senhor. A força para superar as dificuldades e, aquilo que mais me chateia, o feitio. Caramba, sou tão parecida a ele que até irrita. Lá temos as nossas desavenças, mas quem não tem? Fico-te grata por tudo pois se sou o que sou hoje, devo muito a ti. Não és pai só hoje. Sempre foste mesmo ainda antes de eu nascer e serás para sempre.
Isto foi a mensagem que deixei no facebook e no instagram, mas tenho mais umas coisinhas a acrescentar. Hoje venho falar da relação que o meu pai tem com o facto de eu ser uma filha viajada. O meu pai tem algumas dificuldades em perceber o porquê de eu ter aquela ânsia e vontade de viajar. Ele é uma pessoa muito terra-a-terra e quem o tira do seu habitat natural - aka, Viseu - tira-lhe tudo. Longe vão os os tempos em que viajámos imenso até ao Algarve e poucas são as viagens que agora faz para fora do distrito de Viseu. O ano passado recebeu uma viagem ao Funchal e a Porto Santo, para ir visitar o meu irmão que estava lá a estagiar e não teve outro remédio senão ir. Com 64 anos, andou pela primeira vez de avião e de ferry mas jurou que nunca mais o iria fazer. Eu compreendo, teve uma educação diferente e nunca teve interesse em conhecer mais do que aquilo que já conhece. Talvez por isso é que lhe faça tanta confusão eu ter o bichinho das viagens no sangue. Benze-se de cada vez que eu digo que quero ir ao destino X ou Y e pergunta-me "mas não estás melhor aqui?" De todas as vezes eu dou-lhe o meu ponto de vista, ele diz "está bem", mas nunca está. No entanto, começo a achar que já está mais "liberal" neste campo e também já está habituado a que eu viaje. Sozinha. Acredito que não deva ser fácil para um pai saber que a sua filha anda em país estrangeiro e ainda por cima, sozinha. Mas, como eu já faço isto há alguns anos, ele acabou por se habituar de certa forma mas sei que, lá bem no fundo, ele continua a não compreender e não sei se algum dia irá.